ANÁLISE DO LIVRO "UM BREVE HISTÓRICO DA CIDADE DE MARTINÓPOLE" DE ADAUTO MONTE.










Antonio Abelardo Araújo Sampaio

A obra aqui analisada por mim é de autoria do Professor Adauto Monte, graduado em Estudos Sociais – Licenciatura pela Universidade Vale do Acaraú (UVA), publicada no 40° aniversário de emancipação do município de Martinópole no Ceará. Adauto fez suas pesquisas e produziu o livro “Breve Histórico da cidade de Martinópole (1957 – 1997)” a pedido do então prefeito Dr. José Nilson Farias de Sousa que na época estava em seu primeiro mandato. Por conta disso, apesar da apresentação escrita por Mirian Pessoa de Vasconcelos Félix ressaltar “imparcialidade” na escrita de Adauto, a escrita historiográfica vista na obra não pode ser descrita como imparcial visto que a História escrita não é imparcial por obter um agente histórico como autor e uma instituição de produção, no caso de Adauto, ele seria o agente histórico que impõe sua perspectiva na escrita, e a instituição seria a prefeitura municipal de Martinópole que durante a escrita da obra se encontrava na administração de José Nilson, quem idealizou o projeto e deu esta missão ao Professor Adauto Monte.

A escrita de Adauto segue uma vertente positivista tendo em vista a ideia desta gerada no século XIX, que visava uma escrita “imparcial” e pragmática que apenas conta os fatos sem se preocupar com possíveis indagações, entre outras idealizações da vertente historiográfica. Digo que Adauto segue esta vertente historiográfica pois sua escrita possui essas características, em que já citei sobre a suposta imparcialidade, mas além de propor uma escrita “imparcial” o autor possui a escrita pragmática (como me referi a escrita positivista), ele conta os fatos sem abrir margem para discussões. Adauto divide sua obra em 20 (vinte) capítulos, onde o último é voltado apenas para o histórico do então prefeito José Nilson, o responsável por o incumbir a tarefa de escrever o livro, e “esquecendo” de relatar também o histórico de outros gestores o que contradiz a proposta de imparcialidade que Mirian Pessoa de Vasconcelos Félix, que fazia parte da gestão de José Nilson como secretária de educação, diz ser característica da obra de Adauto.

Contendo estes 20 (vinte) capítulos a obra possui uma divisão imaginária, ou seja, uma divisão implícita. Durante a leitura da obra é possível perceber que o autor escreve através de uma divisão de assuntos como religião, política, estrutura, entre outros. Para analisar a obra de Adauto Monte usarei essa divisão, trazendo a tona o brevemente alguns assuntos sobre quais o autor escreveu.

 

ORIGEM DA CIDADE:

O município de Martinópole surgiu no Ceará por volta da metade do século XIX, originando-se de uma fazenda com poucos habitante que residiam próximos a uma lagoa chamada Angica. Essa nomeação dada a lagoa teve inspiração em uma árvore conhecida popularmente como angico, da família das leguminosas monosáceas, que se encontrava nas margens da lagoa e servia de sombra para os que fugiam da soalheira durante parte do dia e para o gado malhar. Por conta da água da lagoa, várias pessoas migraram para Angica em 1887, quando ocorre uma seca degradante. Adauto Monte conta em seu livro que habitantes de Santa Quitéria, Santana do Acaraú, Crateús e Riachão (atualmente Uruoca) foram os que chegaram em Angica atraídos pela lagoa e que as primeiras famílias a chegarem foram Paulino Sampaio, Porfírio Gomes, Brito, Feijó, Melo e outras.

Em outubro de 1917 a população oficializa a mudança de nome de Angica para Martinópolis. A palavra “Martinópolis” é uma junção de “Martins”, em homenagem ao Padre Vicente Martins da Costa que apesar de ser pároco de Granja contribuiu bastante para o povoado, e “Polis”, que em grego significa cidade. Portanto, Martinópolis quer dizer “cidade dos Martins”. Pouco tempo depois foi constatado a existência de uma cidade com o mesmo nome no estado de São Paulo, “até as iniciais da Ferrovia eram idênticas – EFS – por extenso – Estrada de Ferro de Sorocaba e, aqui no Ceará Estrada de Ferro de Sobral” (MONTE, Adauto. P. 16). Por conta disso, aconteceram muitas trocas de correspondências e documentos entres essas cidades, e por isso teve que ser alterado o nome de Martinópolis para Martinópole.

 

ESTRADA DE FERRO:

Um dos maiores marcos para o desenvolvimento de Angica e da região foi a estrada de ferro criada pelo Decreto Imperial N° 6490 em 19 de junho de 1878. A Estrada de Ferro Sobral percorria um trecho entre as cidades de Sobral e Camocim, começando as obras em Camocim em 1879.

Adauto Monte conta que em 1881 o povoado de Angica, já com 150 habitantes – destaca Adauto –, recebeu o assentamento do primeiro trilho e a construção da casa residencial do Agente responsável pela estação, e lá estavam presentes no momento da entrega além da população de Angica, o engenheiro chefe José Júlio de Albuquerque e Rocha Dias. Ainda em 1881, em 15 de janeiro, o primeiro trecho Camocim-Granja, com 24,5 km, foi inaugurado. Mas apenas após a conclusão da Ponte Metálica de Granja, que passa sobre o rio Coreaú, que os trens começaram a trafegar. Com o trafego maquinário “as transações comerciais foram dinamizadas e o progresso chegava em um ritmo inesperado” (MONTE, Adauto. P. 17).

Em 11 de novembro de 1931, a nova Estação foi inaugurada. Adauto conta que o evento “foi uma grande festa” (MONTE, Adauto. P. 18) e que contou com a presença do engenheiro da empresa, uma comitiva de Uruoca, várias autoridades de municípios vizinhos e a população de Martinópole.

“A importância da chegada do trem pode ser dimensionada quando dizemos que, o dia nas cidades eram fragmentados em ‘antes do trem’ e ‘depois do trem’.” (MONTE, Adauto. P. 19).

Adauto relata que em toda cidade assistida pela Rede de Viação Cearense criou-se o costume de ver a chegada e saída do trem. Na estação se concentravam pessoas com várias finalidades: venda de bolos, água de coco, roscas; alguns esperavam cargas ou passageiros; mas a maioria apenas assistiam a passagem do trem. Em 24 de agosto de 1977 a Rede de Viação Cearense é desativada, e atualmente o prédio da estação foi cedido à prefeitura para funcionar como Biblioteca Pública Municipal.

 

RELIGIÃO:

Um dos fatores que impulsiona o desenvolvimento social, econômico e cultural em Martinópole é a religião. Para essa abordagem sobre a religião no município de Martinópole é necessário ressaltar que sim, a cidade se desenvolveu sob a influência da igreja católica – podemos perceber na origem do nome da cidade que em parte é uma homenagem ao Padre Vicente Martins da Costa que muito fez pela população –, mas também temos que lembrar que Adauto escreve sob sua perspectiva católica e ressalta apenas fatos sobre a igreja católica.

O povoado de Angica pertencia a paróquia de Granja (CE) e teve sua primeira missa celebrada em 8 de dezembro de 1911, na residência de Dona Raimunda Gomes, hoje na Avenida Capitão Brito. Missa essa, celebrada por Padre Vicente Martins da Costa. Para a construção da capela, foi doado por um senhor conhecido por “Tendá”, filho de uma fazendeira chamada Maria Alves. O lançamento da pedra fundamental foi em 28 de novembro de 1912, com o Padre Martins orientando os trabalhos. Assim, “o prédio da Igreja serviu de alinhamento para as construções que surgiram ao seu redor” (MONTE, Adauto. P. 21). Algum tempo depois, Joaquim João Brito, Manoel Leontino e Alexandre Gomes colaboraram para construir a quadra da frente da capela onde hoje se encontra a Praça da Matriz.

A primeira capela de Martinópole foi inaugurada em 11 de novembro de 1916, ainda na época do povoado de Angica. Nesse dia foi celebrada a primeira missa em Ação de Graças pelo benfeitor Pe. Martins, e assistida pela população local e por visitantes, em agradecimento a Nossa Senhora da Conceição, padroeira da localidade, pela implantação da esperada “Casa de Deus”.

A capela de Martinóple foi durante 30 anos pertencente a paróquia de Granja, e somente em 20 de dezembro de 1946 foi criada a nossa paróquia. A festa de consagração contou com a presença de Dom José Tupinambar da Frota, então bispo da diocese de Sobral, Pe. Monoel Vitorino de Oliveira que junto a Dom José celebrou o ato cerimonial e posse do primeiro pároco de Martinópole, Pe. João Batista Pereira. Após a carreira missionária de Pe. Jão Batista em Martinópole ter fim, que o sucede é Pe. Emílio Serafim, que assumiu a função de pároco no dia 10 de outubro de 1949 e que ganhou destaque por seus atos de caridade. Pe. Emílio faleceu em 1988 e em 1995 a prefeitura de Martinópole colocou na praça matriz um busto em sua homenagem no sétimo aniversário de sua morte. Em Martinópole, cada vigário que passou por essa cidade contribuiu com algo para sua população seja com obras materiais ou seja com atos caridosos. Por seus status eclesiásticos, geralmente os prédios ou instituições idealizadas por esses padres visavam uma finalidade espiritual como por exemplo a construção do Salão Paroquial por Pe. César e diversas capelas e cemitérios por iniciativa de diversos padres, e também, além de instalações religiosas prédios como o Hospital e Maternidade Maria Pinotti – atualmente Hospital e Maternidade Imaculada Conceição – e Escolas Reunidas Murilo Braga – atualmente Escola de Ensino Médio Murilo Braga, que se encontra inativa –, idealizados por Pe. Emílio.

A ideia de que a cidade se desenvolveu sob a influência da Igreja Católica surge a partir dessas colaborações de padres que foram abraçados pela população como benfeitores e receberam apoio destes em suas campanhas. Algo que também realça a relevância religiosa no município é o festejo em homenagem a padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, que apesar de ser de vertente católica reúne praticamente todos os habitantes da cidade nas ruas movimentadas e animadas, independente da crença religiosa de cada um. Os festejos iniciam no dia 28 de novembro e se encerra no dia 8 de dezembro e durante esse período pessoas de outras cidades visitam Martinópole e geram renda na cidade consumindo produtos das barracas de feirante locais e visitantes.

Em sua obra, Adauto Monte ressalta o festejo de 1994 porquê foi o festejo em que a administração municipal começou a participar de forma mais presente promovendo por exemplo leilões e festas com bandas de música. Nessa época a administração municipal era composta por Fontenele como prefeito e como vice-prefeito José Nilson, entre essas então novidades nos festejos estava um balão que tinha escrito “Homenagem – Fontenele e José Nilson à festa de Nossa Senhora da Conceição”. Adauto ainda ressalta o festejo de 1996 que por ser comemorado também os 50 anos da paróquia “teve um visual todo especial” (MONTE, Adauto. P. 27), e que mais uma vez teve uma homenagem do então prefeito que nesse ano era José Nilson.

 

POLÍTICA:

Com o povoado em constante desenvolvimento, o habitantes sentiam a necessidade de uma independência política. Segundo Adauto, “o desejo de independência tornou-se acelerado porque Uruoca logo ia se emancipar e pleiteava Martinópole como seu Distrito” (MONTE, Adauto. P. 33). Nesse momento importante para os habitante de Martinópole, Pe. Emílio Serafim se encontrava em Fortaleza, mas ao chegar em Martinópole soube da notícia e junto a Miguel Nicodemus e José Ribamar Borros foram ao então deputado Guilherme Gouveia, “que também era político forte junto ao Governador do Estado, Paulo Sarasate” (MONTE, Adauto. P. 33), onde seu pedido foi aceito. No dia 2 de julho de 1956 seria realizado um plebiscito.

O plebiscito aconteceu e 6 de novembro de 1956 com a aprovação de quase toda população, com apenas 76 votos contra, assim aconteceu a independência de Martinópole. A lei que criou o município foi criada em 26 de março de 1957 – Lei N° 3560, Artigo 3°. Apesar do resultado do plebiscito e da lei de criação do município, foi só em 30 de abril de 1958 que Martinópole se desmembrou de Granja e assim sendo marcado a eleições municipais para prefeito, vice-prefeito e câmara dos vereadores, que seria formada por 7 vereadores com mandato de 4 anos, para o dia 3 e outubro de 1958 e posse para 25 de março de 1959.

Durante o intervalo de tempo entre a emancipação, as eleições e a posse do prefeito eleito, foi nomeado como prefeito interino Gabriel Félix Camilo para cumprir o regulamento da Lei Eleitoral, que ficou com o cargo até a posse do prefeito eleito. Após o ser feito o decreto da Emancipação Política de Martinópole foi dado início às organizações de partidos políticos  e convenções para a escolha dos primeiros candidatos para concorrerem as eleições dos cargos políticos responsáveis pela gestão do novo município. As primeiras eleições para o cargo de prefeito de Martinópole foram disputadas por Miguel Nicodemus Alves e Cícero Dias Martins e para vice-prefeito disputaram Manoel Costa Dourado e Francisco Gustavo Sampaio, nessa disputa foram eleitos prefeito e vice-prefeito Miguel Nicodemus Alves e Manoel Costa Dourado. Já a Câmara de Vereadores foi composta por João Batista Vasconcelos, Antônio Costa Dourado, José Antônio Ramos, Francisco Ferreira Frota, José Ribamar Barros, José Osvaldo Cândido e Raimundo Evangelista Cunha, este último foi o presidente da Câmara.

Seguindo sua escrita, Adauto conta em uma lista, de forma bem pragmática e em ordem cronológica, quais foram os prefeitos e vice-prefeitos da cidade, começando por Miguel Nicodemus e Manoel Costa (gestão de 25/03/1959 – 25/03/1963) até a gestão contemporânea de Adauto que era José Nilson Farias Sousa como prefeito e Manoel Ferreira Barros como vice-prefeito (gestão de 01/01/1997 – 01/01/2000), não dando relevância as carreiras políticas e o histórico de cada prefeito, pelo menos não como ele dá a carreira de José Nilson. A partir daí, Adauto passa a escrever voltando-se mais para a carreira política de José Nilson, desde sua primeira candidatura até sua contemporaneidade.

Algo que Adauto Monte traz em sua obra e que é importante ressaltar e fazer alusão a atualidade são os conflitos políticos que já aconteciam nas primeiras eleições do município, e que hoje os habitantes de Martinópole podem perceber que esses conflitos ainda ocorrem e a cada período eleitoral é visível a evolução negativa desses conflitos. Tais conflitos ocorrem, provavelmente, pelo fato da cidade, na maioria das vezes, apresentar apenas dois candidatos a prefeito que geralmente são pessoas de muita influência no município, senão apoiados por uma. É perceptível a euforia dos eleitores e dos candidatos durante o período eleitoral e até no período inicial do mandato do que foi eleito. É inegável a existência desses conflitos causadores de desordem em Martinópole.

Podemos perceber que isso não é algo de agora quando temos ciência do que aconteceu alguns anos atrás. No último ano do mandato do então prefeito Franciso Fontenele Viana (mandato de 01/01/1993 – 01/01/1997), o vice-prefeito José Nilson renuncia o cargo para se candidatar a prefeito e pede apoio o apoio de Fontenele. Fontenele aceita o acordo com a condição de que José Nilson faça parte de seu partido, o PFL. José Nilson concorreu as eleições junto a Manoel Ferreira Barros, candidato a vice-prefeito, contra Dário Campos Feijó, candidato a prefeito, e Raimundo Arcanjo Azevedo, candidato a vice-prefeito. José Nilson e  Manoel Barros foram eleitos, porém, no dia 1° de janeiro de 1997 os vereadores da oposição eleitos não comparecerem a solenidade da posse na Câmara Municipal junto a uma vereadora da situação, Maria da Conceição de Sousa. Esse tipo de situação, segundo Adauto, estava se tornando “corriqueiro, aqui em Martinópole, pois na posse anterior já havia acontecido o mesmo só que com uma pequena diferença, eles compareceram ao local, mas não quiseram assumir seus cargos” (MONTE, Adauto. P. 38). Segundo Adauto, os vereadores da situação (do PFL) informaram que Maria da Conceição não compareceu por terem prometido a ela o cargo de Presidente da Câmara, em uma segunda eleição que aconteceria.

Durante um período a cidade praticamente possuiu duas Câmaras Municipais, a oficial que funcionava no prédio próprio da Câmara com Elias Rodrigues Moreira como presidente e a extraoficial que funcionava no prédio do Cartório de Notas e Registro Público, na Av. Capitão Brito. Esse caso, obviamente, passou pela justiça para ser resolvido, mas por sua obra ter sido escrita durante os ocorridos, Adauto não nos conta o desfecho. Outro fato inusitado na época foi que Francisco Fontenele, que apoiou a campanha de José Nilson que integram o mesmo partido, passou a apoiar a oposição junto a sua companheira Maria da Conceição de Sousa, a presidenta da “segunda Câmara”. Enfim, na atualidade fatos parecidos ainda continuam ocorrendo frequentemente, nos períodos eleitorais e pós-eleições, cassação de candidatura, cassação de mandato, políticos polêmicos, vandalismo, tudo isso ocorre em Martinópole durante o período mais “remoso” da cidade.

Após escrever sobre a origem de Martinópole, sobre a Estrada de Ferro, sobre a religião e sobre a política na cidade, Adauto continua sua obra com listas sobre eventos da cidade; os primeiros em suas funções; etc.; mostra a imagem da bandeira do município com uma explicação bem rápida, apresenta a letra do hino municipal e sua partitura também com uma explicação bem rápida. A partir daí, Adauto escreve apenas sobre a gestão de dois prefeitos da cidade, no caso Francisco Fontenele e José Nilson, isso talvez porque José Nilson fez parte das duas gestões como vice-prefeito e como prefeito. Entre os capítulos referente a gestão de Francisco Fontenele e a de José Nilson, o autor passa a apresentar pragmaticamente dados analíticos sobre a geografia, economia e o social da cidade.

“É patente o marco que essa administração deixou em nossa cidade. Hoje dividimos nossa história em duas etapas – Martinópole antes e depois da administração que teve como lema ‘A força do trabalho’.” (MONTE, Adauto. P. 61).

Repito que, ao contrário do que Mirian Pessoa de Vasconcelos Félix diz na apresentação do livro, Adauto Monte não demonstra imparcialidade em sua obra. Basta notarmos que o autor não aprofunda sobre os outros que ocuparam o cargo de prefeito(a) na cidade e foca na carreira de José Nilson Farias Félix, algo que fica explicito do capítulo 17 ao 20, em que ele fala da gestão de José Nilson como prefeito e no final de sua obra, no último capítulo, ele aprofunda sobre o passado deste político que, ressalto, foi quem pediu que Adauto escrevesse tal obra. Algo que também deixa claro a posição de Adauto sobre José Nilson nos cargos de prefeito e de vice-prefeito é esta citação que apresento acima. Apesar da clara parcialidade e da escrita pragmática de Adauto Monte, sua obra possui bastante relevância no município, isso porque ninguém mais se propôs a produzir uma obra semelhante com novas informações ou até mesmo com críticas referentes a obra de Adauto. Por conta disso, a obra de Adauto é um dos documentos mais procurados quando se trata de pesquisas sobre a cidade.

 

REFERÊNCIA:

Monte, Adauto. BREVE HISTÓRICO DA CIDADE DE MARTINÓPOLE (1957 – 1997). Martinópole-CE, 1997.


Gruta Nossa Senhora De Lourdes









          A cidade de Martinópole, no Ceará, surgiu por volta do século XIX se originando de uma fazenda com poucos habitantes que se instalaram nas proximidades de uma lagoa chamada Angica. No ano de 1877, foi quando uma seca degradante surgiu e fez com que habitantes de lugares vizinhos como  Santa Quitéria, Santana do Acaraú, Crateús, Riachão (hoje Uruoca) migrassem para Angica atraídos pela água da lagoa (fonte: IBGE).

Em 1917, percebemos a ligação da cidade com a religião, mais especificamente o catolicismo. Foi o ano em que a população oficializa a mudança do nome Angica para Martinópolis, homenageando o pároco de Granja, Pe. Vicente Martins da Costa, que prestou muitos serviços ao povoado. Martinópolis é a junção de MARTINS, sobrenome do pároco e PÓLIS que em grego significa cidade. Martinópolis quer dizer cidade de Martins. Pouco tempo depois, constatou-se a existência de uma cidade de mesmo nome no estado de São Paulo, e por causa das trocas de correspondências que ocorria foi necessário alterar de Martinópolis para Martinópole. Sua emancipação como cidade foi em 26 de março de 1957 (fonte: IBGE).

Além da agricultura e outras empreitadas agrárias, a religião também é um forte fator que move a economia de Martinópole. Isso, principalmente no fim do ano, entre 28 de novembro e 08 de dezembro, quando ocorre os festejos da padroeira do município, Nossa Senhora da Conceição. Um evento que une várias pessoas da própria cidade e visitantes que acreditam na crença cristã em novenas e missas celebradas nos dez dias de festejos, e que no fim das missas a união não é mais apenas entre os católicos, mas também entre crentes de outras igrejas e religiões e até os não crentes que se unem nas ruas iluminadas, no parque que chega todo ano, nas barracas de comerciantes locais e de outras cidades.

Além da igreja matriz e os festejos celebrados à padroeira (Nossa Sra. da Conceição), a cidade possui um importante ponto de práticas religiosas como local de oração, pagamento de promessas e até como local que dá início aos festejos de Nossa Senhora da Conceição, a chamada Gruta, que além de ponto religioso é um ponto turístico da cidade. Apesar de ser um lindo lugar para apreciar e meditar, sua história inicia com um atentado mal sucedido ao então prefeito Dário Campos Feijó (1940 – 2010) em 15 de março de 1987, segundo José Luís Cunha. Dário Campos Feijó foi prefeito de Martinópole-CE, e além disso considerado por muitos dos habitantes da cidade, especificamente os entrevistados para essa pesquisa, um dos melhores gestores do município e um bom feitor para a cidade. De acordo com um documento assinado pelo próprio Dário em 2009, em que conta sua trajetória política em Martinópole, o líder político passou 26 anos de sua vida na prefeitura de Martinópole, contribuindo direta e indiretamente no desenvolvimento da cidade. Em suas gestões, a prefeitura construiu o primeiro prédio escolar - a ESCOLA MIGUEL NICODEMOS -, concluiu o prédio do Hospital da cidade, o Mercado Público, o Abrigo dos Feirantes (conhecido hoje como Galpão), a Praça da Igreja Nossa Senhora da Conceição, entre outras obras que foram feitas. Dário Campos Feijó foi prefeito de Martinópole entre os anos: 1967 – 1971, 1973 – 1977, 1983 – 1989. Além de sua participação política como prefeito, Dário participou direta e indiretamente durante um período da gestão de Manoel Costa Dourado, eleito em 1976, e participou ativamente na administração de Maria Liduina de Melo, eleita em 1988. Além disso, antes de seus mandatos como prefeito, Dário foi eleito vereador em 1962.

Por falta de documentação, as informações foram possíveis através de pessoas que de certa forma estiveram envolvidas nos acontecimentos. José Luís Cunha, conhecido na cidade pelo apelido de Cabecinha, estava presente no momento do mal sucedido atentado. Ele estava acompanhando o então prefeito Dário Campos Feijó em seu carro quando foram surpreendidos por tiros. Segundo as freiras Arminda Ferreira e Jacinta Ferreira, envolvidas na construção da gruta, e o próprio José Luís, o tiro era direcionado à Dário. De acordo com Luís, ele e Dário tinham ido à fazenda “Bom Princípio”, que na época era de Dário, para concertar uma bomba de chafariz, mas na volta foram surpreendidos por tiros em que Luís acabou sendo atingido, tiro esse marcado pela perda de seu braço. Luís acredita que Dário era o alvo por obter um cargo considerado de poder, o de prefeito. Segundo as irmãs freiras Arminda Ferreira e Jacinta Ferreira, o atentado ocorreu próximo ao terreno onde hoje se encontra a Gruta que por uma iniciativa das mesmas foi construída. Arminda, Jacinta e outras pessoas religiosas acreditam que o fato de Dário e Luís terem sobrevivido foi um milagre, elas acreditam fielmente que Nossa Senhora de Lourdes intercedeu a Deus no momento do ocorrido, e decorrente dessa crença as mesmas pediram a construção da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes.

Segundo Jacinta e Arminda, Dário mantinha uma amizade com Caetano Oliveira que residia na cidade vizinha, Granja-Ce. O então prefeito de Martinópole, incentivado pelas irmãs freiras, procurou Caetano que junto com a família tinha terras vizinhas às de Dário, para conversar. Existe uma terra conhecida como “Terra Una” ou “Terra das Fonsecas”, como era conhecido em Martinópole  por causa das irmãs que também eram donas do terreno que possuíam o sobrenome Fonseca. Segundo Antonio Edson Oliveira Rocha, a “Terra Una” inicialmente foi do Coronel Zeferino Gil Peres da Motta, que foi chefe político de Granja-Ce por muito tempo e faleceu em 7 de dezembro de 1889, ano da Proclamação da República do Brasil. Após o falecimento de sua mulher, Carolina Elisa da Motta, foi feito o inventário deixando as terras para sua filha, Zulmira Zeferina da Motta (nome de solteira). Com o falecimento de Zulmira, a divisão das terras é feita entre seus filhos deixando para Albertina Motta Dias, Carolina Zeferina da Mota Fonseca, Zeferina da Mota Fonseca e Francisca Fonseca. Esta três últimas eram conhecidas em Martinópole como “As irmãs Fonseca” e a mais nova entre elas, Francisca Fonseca, foi quem autorizou a construção da gruta na “Terra Una”, porém, enquanto em vida, ninguém à procurou para assinar o documento e oficializar a permissão.

Pedro Paulo Ferreira Ferro, assim como seu avô foi, era o dito procurador das terras, um cargo que donos de terras dão a quem os representa, e representa a propriedade. Pedro Ferro explica que na época, Dário foi conversar com Caetano Dias de Oliveira (1926 – 1998) sobre a possível doação do terreno, já que Caetano, por ser filho de Albertina Motta Dias, herdou parte das terras e era um dos proprietários junto com suas tias. Antonio Edson Oliveira Rocha, sobrinho de Caetano, complementa afirmando que seu tio era um grande comerciante e que também mantinha uma fazenda e acabava se relacionando com pessoas de Martinópole e de outras cidades da região, algo que poderia ter sido um fator para a aproximação entre Dário e Caetano. Assim, Caetano teria informado suas tias sobre sua conversa com Dário. Após a morte das irmãs Fonseca e Caetano, Antonio Edson Oliveira Rocha, sobrinho de Caetano e hoje médico em Granja, herdou as terras e até os dias atuais o terreno da Gruta é oficialmente de Edson. Mas por uma questão histórica, de amizade e também talvez pela crença religiosa, isso não apresentou um problema entre os envolvidos. Sendo assim, o terreno em que a Gruta foi construída não possui um proprietário na cidade de Martinópole, e por isso, quem tomou a responsabilidade de cuidar e preservar o local foi o Grupo de Oração formado por fiéis que se unem para orar e algumas das reuniões são na Gruta Nossa Senhora de Lourdes, fazendo jus ao nome do grupo, Grupo Nossa Senhora de Lourdes.

A construção da Gruta Nossa Senhora de Lourdes foi em meados de 1988, e em sua inauguração contou com a presença do Frei Galdino que junto com os devotos saiu em peregrinação da igreja matriz até a Gruta fazendo orações e concluindo com uma Santa Missa. Como já dito, a Gruta foi construída em forma de agradecimento pela vida das vítimas de um atentado, o então prefeito Dário Campos Feijó e quem lhe acompanhava, José Luís Cunha. Mas passado o tempo, a Gruta passou a ser um lugar de oração, grupos de oração como o responsável pela Gruta se reúnem para rezar o terço e orar. Além disso, a Gruta passou a ser tradicionalmente o local que dá início ao Festejo da padroeira de Martinópole, Nossa Senhora da Conceição, em que os católicos junto ao pároco buscam a imagem da Santa e levam para a igreja matriz em uma caminhada com cantoria de hinos e orações. Porém, hoje o local de oração e meditação, além de ponto para atos religiosos passou a ser um ponto turístico da cidade, as crenças e a tradição do festejo contribuíram para isso, mas além disso, a vista e tranquilidade do local chamam a atenção para visitantes. A importância do local para o município vai além da religião e do turismo, claro que isso tem bastante relevância, mas ambos contribuem para algo em comum, a união. A Gruta de Nossa Senhora de Lourdes, apesar de ser um lugar voltado para acolher os religiosos, também acolhe visitantes de outras crenças, é um local de encontro para os habitantes, sejam jovens, adultos ou idosos. É um local que proporciona uma ampla visão da paisagística arborização da zona rural da cidade mostrando a beleza de tal.

Tendo em vista a História, a utilidade e importância desse local para Martinópole, é preciso agora tomar consciência de que esse é um bem patrimonial da cidade e deve ser preservado, e apesar do grupo de oração Nossa Senhora de Lourdes tomar essa responsabilidade, é necessário que a população tenha isso como um dever e que o governo municipal, assim como a população, preserve esse ambiente, seja tomando essa responsabilidade diretamente ou através de projetos que incentivem a população.

 

REFERÊNCIA:

Feijó, Dário Campos. CONHEÇA AS HISTÓRIAS DAS ADMINISTRAÇÕES A PARTIR DE MARÇO DE 1967 A DEZEMBRO DE 1992. Martinópole-Ce, 2009.


Martinópole - CE


 O município de Martinópole surgiu no Ceará por volta da metade do século XIX, originando-se de uma fazenda com poucos habitante que residiam próximos a uma lagoa chamada Angica. Essa nomeação dada a lagoa teve inspiração em uma árvore conhecida popularmente como angico, da família das leguminosas monosáceas, que se encontrava nas margens da lagoa e servia de sombra para os que fugiam da soalheira durante parte do dia e para o gado malhar. Por conta da água da lagoa, várias pessoas migraram para Angica em 1887, quando ocorre uma seca degradante. Adauto Monte conta em seu livro que habitantes de Santa Quitéria, Santana do Acaraú, Crateús e Riachão (atualmente Uruoca) foram os que chegaram em Angica atraídos pela lagoa e que as primeiras famílias a chegarem foram Paulino Sampaio, Porfírio Gomes, Brito, Feijó, Melo e outras.

Em outubro de 1917 a população oficializa a mudança de nome de Angica para Martinópolis. A palavra “Martinópolis” é uma junção de “Martins”, em homenagem ao Padre Vicente Martins da Costa que apesar de ser pároco de Granja contribuiu bastante para o povoado, e “Polis”, que em grego significa cidade. Portanto, Martinópolis quer dizer “cidade dos Martins”. Pouco tempo depois foi constatado a existência de uma cidade com o mesmo nome no estado de São Paulo, “até as iniciais da Ferrovia eram idênticas – EFS – por extenso – Estrada de Ferro de Sorocaba e, aqui no Ceará Estrada de Ferro de Sobral” (MONTE, Adauto. P. 16). Por conta disso, aconteceram muitas trocas de correspondências e documentos entres essas cidades, e por isso teve que ser alterado o nome de Martinópolis para Martinópole.

FONTE: 
SAMPAIO, Abelardo. ANÁLISE DA OBRA DE ADAUTO MONTE – BREVE HISTÓRICO DA CIDADE DE MARTINÓPOLE (1957 – 1997). Martinópole-CE, 2021.

HISTÓRIA DA GRUTA DE NOSSA SENHORA DE LOURDES EM MARTINÓPOLE-CE

  DOWLOAD DO ARTIGO