A cidade de Martinópole, no Ceará, surgiu por volta do século XIX se originando de uma fazenda com poucos habitantes que se instalaram nas proximidades de uma lagoa chamada Angica. No ano de 1877, foi quando uma seca degradante surgiu e fez com que habitantes de lugares vizinhos como Santa Quitéria, Santana do Acaraú, Crateús, Riachão (hoje Uruoca) migrassem para Angica atraídos pela água da lagoa (fonte: IBGE).
Em 1917,
percebemos a ligação da cidade com a religião, mais especificamente o
catolicismo. Foi o ano em que a população oficializa a mudança do nome Angica
para Martinópolis, homenageando o pároco de Granja, Pe. Vicente Martins da
Costa, que prestou muitos serviços ao povoado. Martinópolis é a junção de
MARTINS, sobrenome do pároco e PÓLIS que em grego significa cidade.
Martinópolis quer dizer cidade de Martins. Pouco tempo depois, constatou-se a
existência de uma cidade de mesmo nome no estado de São Paulo, e por causa das
trocas de correspondências que ocorria foi necessário alterar de Martinópolis
para Martinópole. Sua emancipação como cidade foi em 26 de março de 1957
(fonte: IBGE).
Além da
agricultura e outras empreitadas agrárias, a religião também é um forte fator
que move a economia de Martinópole. Isso, principalmente no fim do ano, entre
28 de novembro e 08 de dezembro, quando ocorre os festejos da padroeira do
município, Nossa Senhora da Conceição. Um evento que une várias pessoas da
própria cidade e visitantes que acreditam na crença cristã em novenas e missas
celebradas nos dez dias de festejos, e que no fim das missas a união não é mais
apenas entre os católicos, mas também entre crentes de outras igrejas e
religiões e até os não crentes que se unem nas ruas iluminadas, no parque que
chega todo ano, nas barracas de comerciantes locais e de outras cidades.
Além da igreja
matriz e os festejos celebrados à padroeira (Nossa Sra. da Conceição), a cidade
possui um importante ponto de práticas religiosas como local de oração,
pagamento de promessas e até como local que dá início aos festejos de Nossa
Senhora da Conceição, a chamada Gruta, que além de ponto religioso é um ponto
turístico da cidade. Apesar de ser um lindo lugar para apreciar e meditar, sua
história inicia com um atentado mal sucedido ao então prefeito Dário Campos
Feijó (1940 – 2010) em 15 de março de 1987, segundo José Luís Cunha. Dário
Campos Feijó foi prefeito de Martinópole-CE, e além disso considerado por
muitos dos habitantes da cidade, especificamente os entrevistados para essa
pesquisa, um dos melhores gestores do município e um bom feitor para a cidade.
De acordo com um documento assinado pelo próprio Dário em 2009, em que conta
sua trajetória política em Martinópole, o líder político passou 26 anos de sua
vida na prefeitura de Martinópole, contribuindo direta e indiretamente no
desenvolvimento da cidade. Em suas gestões, a prefeitura construiu o primeiro
prédio escolar - a ESCOLA MIGUEL NICODEMOS -, concluiu o prédio do Hospital da
cidade, o Mercado Público, o Abrigo dos Feirantes (conhecido hoje como Galpão),
a Praça da Igreja Nossa Senhora da Conceição, entre outras obras que foram
feitas. Dário Campos Feijó foi prefeito de Martinópole entre os anos: 1967 –
1971, 1973 – 1977, 1983 – 1989. Além de sua participação política como
prefeito, Dário participou direta e indiretamente durante um período da gestão
de Manoel Costa Dourado, eleito em 1976, e participou ativamente na
administração de Maria Liduina de Melo, eleita em 1988. Além disso, antes de
seus mandatos como prefeito, Dário foi eleito vereador em 1962.
Por falta de
documentação, as informações foram possíveis através de pessoas que de certa
forma estiveram envolvidas nos acontecimentos. José Luís Cunha, conhecido na
cidade pelo apelido de Cabecinha, estava presente no momento do mal sucedido
atentado. Ele estava acompanhando o então prefeito Dário Campos Feijó em seu
carro quando foram surpreendidos por tiros. Segundo as freiras Arminda Ferreira
e Jacinta Ferreira, envolvidas na construção da gruta, e o próprio José Luís, o
tiro era direcionado à Dário. De acordo com Luís, ele e Dário tinham ido à
fazenda “Bom Princípio”, que na época era de Dário, para concertar uma bomba de
chafariz, mas na volta foram surpreendidos por tiros em que Luís acabou sendo
atingido, tiro esse marcado pela perda de seu braço. Luís acredita que Dário
era o alvo por obter um cargo considerado de poder, o de prefeito. Segundo as
irmãs freiras Arminda Ferreira e Jacinta Ferreira, o atentado ocorreu próximo
ao terreno onde hoje se encontra a Gruta que por uma iniciativa das mesmas foi
construída. Arminda, Jacinta e outras pessoas religiosas acreditam que o fato
de Dário e Luís terem sobrevivido foi um milagre, elas acreditam fielmente que
Nossa Senhora de Lourdes intercedeu a Deus no momento do ocorrido, e decorrente
dessa crença as mesmas pediram a construção da Gruta de Nossa Senhora de
Lourdes.
Segundo Jacinta e
Arminda, Dário mantinha uma amizade com Caetano Oliveira que residia na cidade
vizinha, Granja-Ce. O então prefeito de Martinópole, incentivado pelas irmãs
freiras, procurou Caetano que junto com a família tinha terras vizinhas às de
Dário, para conversar. Existe uma terra conhecida como “Terra Una” ou “Terra
das Fonsecas”, como era conhecido em Martinópole por causa das irmãs que também eram donas do
terreno que possuíam o sobrenome Fonseca. Segundo Antonio Edson Oliveira Rocha,
a “Terra Una” inicialmente foi do Coronel Zeferino Gil Peres da Motta, que foi
chefe político de Granja-Ce por muito tempo e faleceu em 7 de dezembro de 1889,
ano da Proclamação da República do Brasil. Após o falecimento de sua mulher,
Carolina Elisa da Motta, foi feito o inventário deixando as terras para sua
filha, Zulmira Zeferina da Motta (nome de solteira). Com o falecimento de
Zulmira, a divisão das terras é feita entre seus filhos deixando para Albertina
Motta Dias, Carolina Zeferina da Mota Fonseca, Zeferina da Mota Fonseca e
Francisca Fonseca. Esta três últimas eram conhecidas em Martinópole como “As
irmãs Fonseca” e a mais nova entre elas, Francisca Fonseca, foi quem autorizou
a construção da gruta na “Terra Una”, porém, enquanto em vida, ninguém à
procurou para assinar o documento e oficializar a permissão.
Pedro Paulo
Ferreira Ferro, assim como seu avô foi, era o dito procurador das terras, um
cargo que donos de terras dão a quem os representa, e representa a propriedade.
Pedro Ferro explica que na época, Dário foi conversar com Caetano Dias de
Oliveira (1926 – 1998) sobre a possível doação do terreno, já que Caetano, por
ser filho de Albertina Motta Dias, herdou parte das terras e era um dos
proprietários junto com suas tias. Antonio Edson Oliveira Rocha, sobrinho de
Caetano, complementa afirmando que seu tio era um grande comerciante e que
também mantinha uma fazenda e acabava se relacionando com pessoas de
Martinópole e de outras cidades da região, algo que poderia ter sido um fator
para a aproximação entre Dário e Caetano. Assim, Caetano teria informado suas
tias sobre sua conversa com Dário. Após a morte das irmãs Fonseca e Caetano,
Antonio Edson Oliveira Rocha, sobrinho de Caetano e hoje médico em Granja,
herdou as terras e até os dias atuais o terreno da Gruta é oficialmente de
Edson. Mas por uma questão histórica, de amizade e também talvez pela crença
religiosa, isso não apresentou um problema entre os envolvidos. Sendo assim, o
terreno em que a Gruta foi construída não possui um proprietário na cidade de
Martinópole, e por isso, quem tomou a responsabilidade de cuidar e preservar o
local foi o Grupo de Oração formado por fiéis que se unem para orar e algumas
das reuniões são na Gruta Nossa Senhora de Lourdes, fazendo jus ao nome do
grupo, Grupo Nossa Senhora de Lourdes.
A construção da
Gruta Nossa Senhora de Lourdes foi em meados de 1988, e em sua inauguração
contou com a presença do Frei Galdino que junto com os devotos saiu em
peregrinação da igreja matriz até a Gruta fazendo orações e concluindo com uma
Santa Missa. Como já dito, a Gruta foi construída em forma de agradecimento
pela vida das vítimas de um atentado, o então prefeito Dário Campos Feijó e
quem lhe acompanhava, José Luís Cunha. Mas passado o tempo, a Gruta passou a
ser um lugar de oração, grupos de oração como o responsável pela Gruta se
reúnem para rezar o terço e orar. Além disso, a Gruta passou a ser
tradicionalmente o local que dá início ao Festejo da padroeira de Martinópole,
Nossa Senhora da Conceição, em que os católicos junto ao pároco buscam a imagem
da Santa e levam para a igreja matriz em uma caminhada com cantoria de hinos e
orações. Porém, hoje o local de oração e meditação, além de ponto para atos
religiosos passou a ser um ponto turístico da cidade, as crenças e a tradição
do festejo contribuíram para isso, mas além disso, a vista e tranquilidade do
local chamam a atenção para visitantes. A importância do local para o município
vai além da religião e do turismo, claro que isso tem bastante relevância, mas
ambos contribuem para algo em comum, a união. A Gruta de Nossa Senhora de
Lourdes, apesar de ser um lugar voltado para acolher os religiosos, também
acolhe visitantes de outras crenças, é um local de encontro para os habitantes,
sejam jovens, adultos ou idosos. É um local que proporciona uma ampla visão da
paisagística arborização da zona rural da cidade mostrando a beleza de tal.
Tendo em vista a História, a
utilidade e importância desse local para Martinópole, é preciso agora tomar
consciência de que esse é um bem patrimonial da cidade e deve ser preservado, e
apesar do grupo de oração Nossa Senhora de Lourdes tomar essa responsabilidade,
é necessário que a população tenha isso como um dever e que o governo
municipal, assim como a população, preserve esse ambiente, seja tomando essa
responsabilidade diretamente ou através de projetos que incentivem a população.
REFERÊNCIA:
Feijó, Dário Campos.
CONHEÇA AS HISTÓRIAS DAS ADMINISTRAÇÕES A PARTIR DE MARÇO DE 1967 A DEZEMBRO DE
1992. Martinópole-Ce, 2009.
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